quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Trucidaram o rio (Manuel Bandeira)





Prendei o rio
Maltratai o rio
Trucidai o rio
A água não morre
A água é feita
De gotas inermes
Que um dia serão
Maiores que o rio
Grandes como o oceano
Fortes como os gelos
Os gelos polares
Que tudo arrebentam.


Poema extraído do livro: Manuel Bandeira - Estrela da Vida Inteira - Editora Nova Fronteira

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Coisas que eu sei



Com rimas singelas, porém suaves e gostosas de se ouvir. Esta canção de Dudu Falcão talvez seja uma das mais belas canções brasileiras. Poucos autores conseguiram encontrar tamanha inspiração para compor, e Dudu Falcão foi um deles. Coisas que eu sei é uma bela canção interpretada magistralmente na voz doce e suave de Danni Carlos.


Coisas Que Eu Sei

Composição: Dudu Falcão
Danni Carlos


Eu quero ficar perto
De tudo que acho certo
Até o dia em que eu
Mudar de opinião
A minha experiência
Meu pacto com a ciência
Meu conhecimento
É minha distração...

Coisas que eu sei
Eu adivinho
Sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio relógio
Mostra o tempo errado
Aperte o Play...

Eu gosto do meu quarto
Do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer
Na minha confusão
É o meu ponto de vista
Não aceito turistas
Meu mundo tá fechado
Pra visitação...

Coisas que eu sei
O medo mora perto
Das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim
Não vou trocar de roupa
É minha lei...

Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais
Depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu já nem lembro
Do que eu desenhei...

Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas
No meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos
Que eu não sei usar
Eu já comprei...

As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quanto mais eu mexo
Mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre
Quando tô a fim...

Coisas que eu sei
As noites ficam claras
No raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes
Eu somente não sabia...
Coisas que eu sei
As noites ficam claras
No raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes
Eu somente não sabia...

Agora eu sei...
Agora eu sei...
Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Eu sei!


domingo, 16 de outubro de 2011

Lixo (Texto de Autor desconhecido)



Peguei num papel e amarrotei-o, enquanto disse à minha irmã:

- Imagina que este papel é lixo.

Sem ela esperar atirei-o para cima dela. Pensando que era lixo ela desviou-se e não o apanhou.

- Estás a ver? Com os insultos é o mesmo. Não precisas de os apanhar ...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

No Caminho, com Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)



Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

domingo, 18 de setembro de 2011

A noite será devagar (Charles Bukowski)



bem, aqui estou eu
de novo
ouvindo as boas e velhas
músicas
de novo,
sentindo tristeza,
a boa
tristeza
à moda antiga
em que as lágrimas
não chegam
a sair.
bom.
ouço mais um pouco.

a mente pode
consumir quantidades
mágicas de
memória
enquanto a noite se
desdobra
noite adentro,
enquanto outro charuto
é acesso,
como se pode ficar
terrivelmente amuado
quando velhas
músicas seguem-se
uma às
outras,
rostos são
lembradas,
rostos jovens,
como fatias novas de uma
maçã,
estão mortos
agora,
quase todos
eles
mortos
agora.

a aparente
beleza e
a aparente bravura,
se foram.

sentado aqui
permitindo que meus
melhores sentidos
sejam diluídos pela
melancolia,
um homem
velho,
lembrando
de novo,
olhando de cima
a baixo o bar imaginário
cheio de assentos
vazios,
pensando naquela
criança com os loucos
olhos
vermelhos
que sentava lá
enchendo o copo e
enchendo e enchendo e
enchendo
de novo
ao ponto da
imbecilidade,
agora lembrando,
ouvindo
de novo,
permitindo a idiotice
entrar
de novo,
somos todos
idiotas para sempre
idiotizados
para sempre.
alegremente.
agora.

sábado, 13 de agosto de 2011

O Capitão do “Normandy” (Victor Hugo)



Na noite de 17 de março de 1870, o capitão Harvey fazia sua travessia habitual entre Southampton e Guernesey. Um nevoeiro cobria o mar. 0 capitão Harvey estava de pé no passadiço do steamer, e manobrava cuidadosamente por causa da noite e da bruma. Os passageiros dormiam.

O Normandy era um navio muito grande; talvez o mais bonito dos que faziam a travessia da Mancha: seiscentas toneladas, duzentos e vinte pés ingleses de comprimento, vinte e cinco de largura; era “jovem”, como dizem os marinheiros: não tinha sete anos. Fora construído em 1863.

0 nevoeiro aumentava, tinha-se saído do rio de Southampton, estava-se em pleno mar, cerca de quinze milhas além das Agulhas. 0 paquete avançava devagar. Eram quatro horas da manhã.

A escuridão era absoluta, uma espécie de teto baixo rodeava o steamer; a custo avistava-se a ponta dos mastros.

Nada tão terrível quanto esses navios cego; que avançam dentro da noite.

De súbito surge um negrume entre a bruma, fantasma e montanha, um promontório de sombra correndo na espuma e varando as trevas. Era o Mary, grande steamer de hélice que vinha de Odessa e se dirigia para Grimsby com um carregamento de quinhentas toneladas de trigo; velocidade enorme, peso imenso. O Mary avançava direto sobre o Normandy.

Nenhum recurso havia para evitar o choque, tamanha a rapidez com que surgem no nevoeiro esses espectros de navios. São encontros sem aproximação. Antes de acabar de vê-lo, a pessoa está morta. 0 Mary, correndo a todo vapor, colheu o Normandy perpendicularmente ao costado e arrebentou-o.

Ele próprio, avariado com o choque, parou.

Havia no Normandy vinte e oito homens de tripulação, uma criada… e trinta e dois passageiros, dos quais doze eram mulheres.

0 abalo foi violentíssimo. Num momento todos estavam no tombadilho: homens, mulheres, crianças, semi-nus, correndo, gritando, chorando. A água entrava furiosa. A fornalha das máquinas, alcançada pela inundação, arquejava. Os, salva-vidas faltavam.

0 capitão Harvey, de pé no passadiço do comando, bradou: “Silêncio para todos, e atenção! Botes ao mar. As mulheres primeiro, os passageiros depois. Em seguida a tripulação. Há sessenta pessoas para salvar”.

Eram sessenta e uma, porém ele esquecia-se de si próprio.

Soltaram as embarcações. Todos correram para elas. Esse açodamento podia fazer os botes virarem. Ockleford, o imediato, e os três contra-mestres, contiveram aquela multidão desvairada. Dormir, e de súbito, imediatamente, morrer, é pavoroso.

Enquanto isso, acima dos gritos e do tumulto, ouvia-se a voz grave do capitão, e este curto diálogo ocorria nas trevas: “Maquinista Locks? – Capitão. – Como está a fornalha? – Submersa. – 0 fogo? – Apagado. – A máquina? – Morta.”

0 capitão gritou: “Imediato Ockleford?” 0 imediato respondeu: “Presente”. 0 capitão prosseguiu: “De quantos minutos dispomos? – Vinte. – É o bastante, disse o capitão. Que todos embarquem, cada qual por sua vez”.

“Imediato Ockleford, está com suas pistolas? – Sim, capitão. – Queime os miolos de qualquer homem que quiser passar antes de uma mulher”.

Todos se calaram. Ninguém resistiu; a multidão sentia acima de si própria aquela grande alma.

O Mary, por seu lado, descera seus botes e acudia em socorro daquele naufrágio que era obra sua.

0 salvamento operou-se com ordem e quase sem luta. Havia, como sempre, tristes egoísmos; também houve dedicações patéticas.

Harvey, impassível em seu posto de comandante, ordenava, dominava, dirigia, ocupava-se com tudo e com todos, governava calmamente aquela agonia e parecia dar ordens à própria catástrofe. Dir-se-ia que o naufrágio lhe prestava obediência.

Em determinado instante ele gritou: “Salvem Clemente!”

Clemente era o grumete. Uma criança.

0 navio diminuía vagarosamente na água profunda. Apressava-se o mais possível o vaivém das embarcações entre o Normandy e o Mary.

“Depressa!” gritava o capitão.

No vigésimo minuto o steamer soçobrou.

A proa afundou primeiro, depois a popa.

O capitão Harvey, de pé no passadiço, não fez um gesto, não disse uma palavra, entrou imóvel no abismo. Viu-se, através da neblina sinistra, aquela estátua negra mergulhar no oceano. Assim acabou o capitão Harvey.

Nenhum marinheiro da Mancha o igualava. Depois de se ter imposto a vida toda o dever de ser um homem, ele usou, ao morrer, do direito de ser um herói.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ladrão (Autor desconhecido)



Conta uma lenda da região do Punjab, que um ladrão entrou numa Quinta e roubou duzentas cebolas. Antes de conseguir fugir, foi preso pelo dono do lugar, que o levou diante de um juiz. O magistrado pronunciou a sentença: pagar dez moedas de ouro. Mas o homem alegou que era uma multa muito alta, e o juiz, então, resolveu oferecer-lhe mais duas alternativas; receber vinte chibatadas, ou comer as duzentas cebolas. O ladrão resolveu comer as duzentas cebolas. Quando chegou à vigésima-quinta, os seus olhos estavam inchados de tanto chorar, e o estômago queimava como o fogo do inferno. Como ainda faltavam 175, e viu que não aguentava o castigo, pediu para receber as vinte chibatadas.

O juiz concordou. Quando o chicote bateu nas suas costas pela décima vez, ele implorou para que parassem de castiga-lo, porque não suportava a dor. O pedido foi aceite, mas o ladrão teve que pagar as dez moedas de ouro.

- Se tivesses aceitado a multa, terias evitado comer as cebolas, e não sofrias com o chicote - disse o juiz. - Mas preferiste o caminho mais difícil, sem entender que, quando se faz algo errado, é melhor pagar logo e esquecer o assunto.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Miolo de pão (Texto de Autor Desconhecido)



Um casal tomava café no dia das suas bodas de ouro. A mulher passou a manteiga na casca do pão e deu para o seu marido, ficando com o miolo.

Pensou ela: - Sempre quis comer a melhor parte do pão, mas amo demais meu
marido e, por 50 anos, sempre lhe dei o miolo. Mas hoje quis satisfazer o
meu desejo".

Para sua imediata surpresa o rosto do marido abriu-se num sorriso sem fim e ele lhe disse:

- Muito obrigado por este presente, meu amor. Durante 50 anos, sempre quis comer a casca do pão, mas como você sempre gostou tanto dela, eu jamais ousei pedir !
Assim é a vida... Muitas vezes nosso julgamento sobre a felicidade alheia pode ser responsável pela nossa infelicidade... Diálogo, franqueza, com delicadeza sempre, são o melhor remédio.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Serenata (Cecília Meireles)




Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.


Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.


Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A apaixonada Elena (Alcântara Machado)



(Senhorinha Elena Benedita de Faria)



- Quem é que me leva hoje no Literário?

Ficou esperando a resposta.

Dona Maria da Glória fazia uns desenhos na toalha com a ponta do garfo. Achando muita graça na história do Dico. Esses meninos. Mas o melhor ainda não tinha sido contado: a negra perdeu a paciência e meteu a mão na cara do gerente. A rapaziada por pândega fez uma subscrição e deu uns dois mil e tanto para a negra. E a polícia? Que polícia? Negra decidida está ali.

- Quem é que me leva hoje no Literário, mamãe?

Ficou esperando a resposta.

Dona Maria da Glória falou:

- Vamos para outra sala que aqui está calor demais.

Dico pôs no Panatrope o Franchie and Johnny. E diante do aparelho ensaiava uns passos complicados. Pé direito atrás. Batida de calcanhares. Pé direito na frente. Batida de calcanhares. Saiu andando que nem cavalo de circo.

Elena sentou-se, abriu a revista diante do rosto pôs uma perna em cima da outra.

- Tenha modos. menina!

Suspirou, descruzou as pernas. Dico foi se chegando. Deu um tabefe na revista, fugiu de banda deslizando.

- Chorando! Que é que ela tem, mamãe?

- Sei lá. Bobagens. Pare com essa dança que me estraga o encerado.

Elena levantou-se e as lágrimas caíram.

- Onde é que vai? Sente-se ai!

Dico parou a musica. Foi ficar diante da irmã de beiço caído.

- As lágrimas da mártir.

Dona Maria mandou que o Dico ficasse quieto, não amolasse nem fosse moleque. E mandou Elena enxugar as lágrimas que já estavam incomodando. Dico jogou o lenço no colo da irmã. Elena jogou o lenço no chão por desaforo. Enxugou com a gola da blusa.

- Sou mesmo uma mártir, pronto!

Os olhares da mãe e do irmão encontraram-se bem em cima do vaso de flores de vidro. Despediram-se e se foram encontrar de novo nos olhos molhados da mártir Elena. O Doutor Zósimo veio lá de dentro escovando os dentes. Sacudiu a cabeça para a mulher:

- Que é que há? A mulher esticou o queixo e abriu os braços: Não sei não!

- Malvados! Não querem me levar no Literário!

- Quem é que não quer?

- Vocês!

Então o Doutor Zósimo voltou lá para dentro babando espuma. O Dico pegou o chapéu, beijou o rosto da mãe, curvou-se diante da irmã, fez umas piruetas e saiu cantando o Pinião. Dona Maria da Glória tirou o cachorro do colo. Depois deu uma mirada vaga assim em torno. Depois penteou o cabelo com os dedos. Finalmente bocejou e disse:

- Não seja boba, menina!

E foi embora.

O ruído da rua. O sol entrando pela porta aberta que dava para o terraço. Batiam pratos na copa. O cachorro latindo para o Doutor Zósimo. Esta mesa seria mais bonita se fosse mais baixa.

Elena espreguiçou-se e pôs no Panatrope um disco bem chorado dos Turunas da Mauricéia.

- Que vestido eu visto, mamãe?

- O azul.

Foi. Demorou um pouco. Voltou.

- Está todo amassado, mamãe.

- Então o verde.

- Com aqueles babados?

E repetiu:

- Com aqueles babados indecentes?

E tornou a repetir:

- Com aqueles babados indecentes, horrorosos, imorais?

Dona Maria da Glória estava na página dos anúncios.

- Em que vapor partiu a Dulce mesmo?

- Como é que a senhora quer que eu me lembre?

- Não seja insolente!

Fechou-se no quarto. Cinco minutos se tanto. Abriu a porta. Disse da porta:

- Eu vou pôr o novo futurista.

- Ponha o verde já disse!

- Oh desgraça, meu Deus!

Se o Zósimo continuasse a não fazer caso ela como mãe estava decidida: curaria aquele nervosismo a chinelo.

A toda hora olhava o ponteiro dos minutos. Já querendo ir embora. Vinte para as oito. Às oito acaba com o hino nacional. No fundo dança não passa de uma sem-vergonhice muito grande. A gente conta na certa com uma coisa: vai a cousa não acontece. As primas não paravam sentadas. Há moças que tiram seus pares de longe: é um jeito de olhar.

Voltar para casa, ler na cama a revista de Hollywood, procurar dormir. Com aquele calorão. E amanhã bem cedo: dentista. A vida é pau. Dez para as oito.

Dez para as oito Firmianinho apareceu. Começou a inspeção pelo lado esquerdo. Foi indo. No canto direito parou. Veio vindo. Chegou. Enfim chegou.

- Boa noite.

- Boa noite.

Tanta aflição antes e agora este silêncio. Dançavam empurrados. Não valeu de nada ter preparado a conversa. Tinha uma pergunta para fazer. Não era bem uma pergunta. Endireitando o busto parecia que se dominava. Felizmente repetiram o maxixe.

- Sabe que comprei um Reo? 22.222.

- Bonitinho?

- Assim assim. Dezoito contos.

Para que dizer o preço? Matou a conversa no princípio. Não tendo coragem de ver precisava perguntar. Então imaginava um modo, imaginava outro cada vez mais nervosa. E dançavam. O maxixe está com jeito de estar acabando. Perguntava agora. Daqui a pouco. No finzinho. Não perguntaria: olharia e pronto. O hino nacional continuou o maxixe.

- Tirou as costeletinhas?

- Ainda não viu?

Ora que resposta.

Quando pararam junto das primas dela ele virou bem o rosto de propósito. Tirou sim. Agora sim. Isso sim.

Despediram-se com muita alegria.

Chegou em casa foi direitinho para o quarto. Tirou o chapéu em frente do espelho. Guardou a bolsa. Ia tirar o vestido de bordados indecentes, horrorosos, imorais. Mas se jogou na cama com os olhos cheios de lágrimas.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Viver como as flores (Conto Oriental)



Era uma vez um jovem que caminhava ao lado do seu mestre. Ele perguntou:

- Mestre, como faço para não me aborrecer? Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes, outras mentirosas... sofro com as que caluniam...

- Pois viva como as flores! - advertiu o mestre.

- Como é viver como as flores? - perguntou o discípulo.

- Repare nestas flores - continuou o mestre - apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas...

É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros nos importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora... Não se deixe contaminar por tudo aquilo que o rodeia... Assim, você estará vivendo como as flores!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A um ausente (Carlos Drummond de Andrade)



Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

domingo, 10 de julho de 2011

Telha de Vidro (Rachel de Queiroz)



Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

A canoa fantástica (Castro Alves)



Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?

Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s'escoa...
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa!...

Mas não branqueja-lhe a vela!
N'água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem
Na solitária canoa?

Que vulto é este sombrio
Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das sombras
Do inferno sobre a canoa!...

Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa,
É teu, Maria, o cadáver,
Que desce nesta canoa?

Caída, pálida, branca!...
Não há quem dela se doa?!...
Vão-lhe os cabelos a rastos
Pela esteira da canoa!...

E as flores róseas dos golfos,
— Pobres flores da lagoa,
Enrolam-se em seus cabelos
E vão seguindo a canoa!...

Soneto da saudade (Guimarães Rosa)



Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!


Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...


Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sonhos e devaneios.



Eu queria ser um corpo celeste... viajante.

Para levar meu amor por ti a todas as galáxias.

Ah, pudesse eu voar!... Se eu pudesse voar!

Apenas uma frase no céu eu deixaria... Amo-te, querida!

Eu queria ser o mais talentoso de todos os poetas.

Talento e inspiração para eternizar o teu nome.

Eternizar o meu amor por ti.

Mas poeta eu não sou... nem tampouco sei voar.

Em meus sonhos viajarei pelas galáxias.

Voarei pelos céus.

Comporei a mais bela poesia de amor.

Em meus sonhos e devaneios faço de ti a mais amada de todas as mulheres...



Gerci Monteiro de Freitas

domingo, 26 de junho de 2011

Um anjo (Machado de Assis)



Foste a rosa desfolhada
Na urna da eternidade
Pr’a sorrir mais animada,
Mais bela, mais perfumada
Lá na etérea imensidade.

Rasgaste o manto da vida,
E anjo subiste ao céu
Como a flor enlanguecida

Que o vento pô-la caída
E pouco a pouco morreu!

Tu’alma foi um perfume
Erguido ao sólio divino;
Levada ao celeste cume
C’os Anjos oraste ao Nume
Nas harmonias dum hino.

Alheia ao mundo devasso,
Passaste a vida sorrindo;
Derribou-te, ó ave, um braço,
Mas abrindo asas no espaço
Ao céu voaste, anjo lindo.

Esse invólucro mundano
Trocaste por outro véu;
Deste negro pego insano
Não sofreste o menor dano
Que tu’alma era do Céu.

Foste a rosa desfolhada
Na urna da eternidade
Pr’a sorrir mais animada
Mais bela, mais perfumada
Lá na etérea imensidade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

As dez palavras mais (Texto de Autor Desconhecido)



A palavra de 2 letras que vale um grande sorriso....

"OI"

Cumprimente!

A palavra de 2 letras mais egoísta...

"EU"

Evite-a!

A palavra de 3 letras mais amiga....

"NÓS"

Use-a!

A palavra de 3 letras mais antipática...

"EGO"

Jogue no lixo!

A palavra de 4 letras mais sadia... sai sumir

"AMOR"

Pratique-o!

A palavra de 4 letras mais perniciosa..

"ÓDIO"

Fique longe!

A palavra de 5 letras mais necessária...

"AJUDA"

Aproxime-se!

A palavra de 5 letras mais temível...

"FALSO"

Não se deixe enganar!

A palavra de 6 letras mais gostosa de ouvir...

"VOLTEI!"

Volte sempre!

A palavra de 6 letras mais mortal...

"FOFOCA"

Ignore-a!

A palavra de 7 letras que mais dói no coração…

"SAUDADE"

Não a perca!

A palavra de 7 letras mais perigosa

"TRAIÇÃO"

Proteja-se!

A palavra de 8 letras mais solidária...

"PARTILHA"

Faça!

A palavra de 8 letras mais adversa

"PREGUIÇA"

Não se deixe pegar!

A palavra de 9 letras mais essencial ...

"CONFIANÇA"

Mereça-a!

A palavra de 9 letras mais trágica

"DESESPERO"

Não se deixe levar!

A palavra de 10 letras mais apreciada...

"AGRADECIDO"

Seja!

A palavra de 10 letras mais antipática

"ARROGÂNCIA"

Seja simples!

domingo, 19 de junho de 2011

Romaria (Renato Teixeira)



Ele (Renato Teixeira) afirmou numa entrevista que compôs Romaria quando visitou a cidade de Aparecida. Disse ele que estando lá diante de tudo aquilo começou a pensar, bem, o resultado de suas reflexões é uma canção fabulosa. Nela é retratado o caboclo brasileiro, uma figura quase em extinção nos dias de hoje. O brasileiro ingênuo e simples, mas, ao mesmo tempo, convicto sobre seus credos, firme em seu brio. 

Renato Teixeira deixa transparecer toda a leveza dos versos caipiras, toda a melodia do cancioneiro regional. Beleza e simplicidade dão o tom em seus versos. A verdadeira música brasileira é assim, composta por palavras simples e verdadeiras.

Talvez a Elis Regina tenha sido a melhor intérprete de Romaria, como fora em quase todas as canções em que se dispôs a interpretar. É isso aí, Bela canção, Bela e ótima intérprete.



Romaria

Renato Teixeira


É de sonho e de pó
o Destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló
Dessa vida, comprida, a só.

Sou caipira pira pora Nossa Senhora De Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.2x

O meu pai foi peão,
Minha mãe solidão,
meus irmãos perderam-se na vida a custa de aventuras.
Descasei e joguei, investi desisti
Se há sorte, eu não sei, nunca vi.

Sou caipira pira pora Nossa Senhora De Aparecida
Ilumina a mina escura e funda, o trem da minha vida.2x

Me disseram porém
que eu viesse aqui
pra pedir de romaria e prece paz dos desaventos
como eu não sei rezar
só queria mostrar
meu olhar, meu olhar, meu olhar.

Sou caipira pira pora Nossa Senhora De Aparecida
ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.3x



sexta-feira, 17 de junho de 2011

A paz (Texto de Autor Desconhecido)



Certa vez houve um concurso de pintura e o primeiro lugar seria dado ao quadro que melhor representasse a paz. Ficaram, dentre muitos, três finalistas igualmente empatados. O primeiro retratava uma imensa pastagem com lindas flores e borboletas que bailavam no ar acariciadas por uma brisa suave. O segundo mostrava pássaros a voar sob nuvens brancas como a neve em meio ao azul anil do céu. O terceiro mostrava um grande rochedo sendo açoitado pela violência das ondas do mar em meio a uma tempestade estrondosa e cheia de relâmpagos. Mas para surpresa e espanto dos finalistas, o escolhido foi o terceiro quadro, o que retratava a violência das ondas contra o rochedo. Indignados, os dois pintores que não foram escolhidos, questionaram o juiz que deu o voto de desempate:

- Como este quadro tão violento pode representar a paz, Sr. Juiz?

E o juiz, com uma serenidade muito grande no olhar, disse: - Vocês repararam que em meio à violência das ondas e à tempestade há, numa das fendas do rochedo, um passarinho com seus filhotes dormindo tranqüilamente?

E os pintores sem entender responderam: - sim, mas... antes que eles concluíssem a frase, o juiz ponderou: - Caros amigos, a verdadeira paz é aquela que mesmo nos momentos mais difíceis nos permite repousar tranqüilos.

Talvez muitas pessoas não consigam entender como pode reinar a paz em meio à tempestade, mas não é tão difícil de entender. Considerando que a paz é um estado de espírito podemos concluir que, se a consciência está tranqüila, tudo à volta pode estar em revolução que conseguiremos manter nossa serenidade. Fazendo uma comparação com o quadro vencedor, poderíamos dizer que o ninho do pássaro que repousava serenamente com seus filhotes, representa a nossa consciência.

A consciência é um refúgio seguro, quando nada tem que nos reprove. E também pode acontecer o contrário: tudo à volta pode estar tranqüilo e nossa consciência arder em chamas. A consciência, portanto, é um tribunal implacável, do qual não conseguiremos fugir, porque está em nós. É ela que nos dará possibilidades de permanecer em harmonia íntima, mesmo que tudo à volta ameace desmoronar, ou acuse sinais de perigo solicitando correção. Sendo assim, concluiremos que a paz não será implantada por decretos nem por ordens exteriores, mas será conquista individual de cada criatura, portas à dentro da sua intimidade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Canto Della Terra (Andrea Bocelli)



Com uma voz exuberante, Andrea Bocelli está entre os maiores tenores da atualidade. Apesar de sua condição de tenor, Andrea Bocelli não deixa de interpretar canções que não sejam clássicas. Ele faz parte do grupo de cantores clássicos que, de uma forma ou de outra, tentam popularizar este ramo música. E neste quesito ele é imbatível, talvez seja o tenor mais popular de nosso tempo. Este magnífico cantor italiano está sempre impecável em suas atuações. A despeito de ele não enxergar, sem gestos e outros artifícios cênicos, Andrea Bocelli consegue fazer com que todos sintam emoção ao apreciar aquele ato sublime. Há uma dele que é espetacular: Canto Della Terra.


Canto Della Terra

Composição: Francesco Sartori / Lucio Quarantotto


Si lo so
Amore che io e te
Forse stiamo insieme
Solo qualche istante
Zitti stiamo
Ad ascoltare
Il cielo
Alla finestra
Questo mondo che
Si sveglia e la notte è
Già così lontana
Già lontana

Guarda questa terra che
Che gira insieme a noi
Anche quando è buio
Guarda questa terra che
Che gira anche per noi
A dorci un po'di sole, sole, sole

My love che sei l'amore mio
Sento la tua voce e ascolto il mare
Sembra davvero il tuo respiro
L'amore che mi dai
Questo amore che
Sta lì nascosto
In mezzo alle sue onde
A tutte le sue onde
Come una barca che

Guarda questa terra che
Che gira insieme a noi
Anche quando è buio
Guarda questa terra che
Che gira anche per noi
A dorci un po'di sole, sole, sole
Sole, sole, sole

Guarda questa terra che
Che gira insieme a noi
A darci un po'di sole
Mighty sun
Mighty sun
Mighty sun


Canto da Terra

Sim eu sei
amor que eu e você
talvez estamos juntos
somente por alguns instantes
Mudos
a escutar
o céu
da janela,
este mundo que
desperta e a noite é
agora já distante,
já distante

Olha esta terra que
que gira junto a nós
até quando está escuro.
Olha esta terra que
que gira também para nós
para nos dar um pouco de sol, sol, sol.

My love que és o meu amor
ouço a tua voz e escuto o mar,
parece mesmo o seu respiro,
o amor que você me dá
este amor que
está aí escondido
no meio das suas ondas
de todas as suas ondas
como uma barca que

olha esta terra que
que gira junto a nós
até quando está escuro.
Olha esta terra que
que gira também para nós
para nos dar um pouco de sol.
Sol, Sol, Sol

Olha esta terra que
que gira junto a nós
para nos dar um pouco de sol.
Mighty sun
Mighty sun
Mighty sun


sábado, 11 de junho de 2011

O vôo de British Airways (Texto de Autor Desconhecido)



Num vôo da British Airways entre Johanesburgo e Londres, uma senhora branca de uns cinqüenta anos senta-se ao lado de um negro. Ela chama a aeromoça para se queixar.

- Qual é o problema, senhora? - pergunta a aeromoça.

- Mas você não esta vendo? - responde a senhora - Você me colocou ao lado de um negro. Eu não consigo ficar ao lado destes nojentos. Me dê um outro assento.

- Por favor, acalme-se - diz a aeromoça - Quase todos os lugares deste vôo estão tomados. Vou ver se há algum lugar na executiva ou na primeira classe.

A aeromoça se afasta e volta alguns minutos depois.

- Minha senhora - explica a aeromoça - como eu suspeitava, não há nenhum lugar vago na classe econômica. Eu conversei com o comandante que confirmou que não há mais lugar na executiva. Entretanto, ainda temos um assento na primeira classe.

Antes que a megera pudesse responder algo, a aeromoça continuou:

- É totalmente inusitado a companhia conceder um assento de primeira classe a alguém da classe econômica, mas, dadas as circunstâncias, o comandante considerou que seria escandaloso que alguém seja obrigado a sentar-se ao lado de uma pessoa tão execrável...

E, dizendo isso, ela se vira para o negro e diz:

- Se o senhor quiser fazer o favor de pegar seus pertences, eu já preparei aquele assento para o senhor...

E todos os passageiros ao redor que acompanharam a cena se levantaram e bateram palmas para a atitude da companhia.

domingo, 5 de junho de 2011

Samurai, uma bela canção de Djavan





Há certos artistas que nunca envelhecem, artisticamente falando. Djavan Caetano Viana (Maceió, 27 de janeiro de 1949) é um desses a que me refiro. Cantor, compositor, produtor musical e violonista brasileiro. A sua especialidade consiste em misturar vários ritmos, portanto, um talento que se destaca por seu ecletismo musical se assim podemos dizer. Djavan possui vários sucessos, dentre os quais "Seduzir", "Flor de Lis", "Lilás", "Pétala", "Se…", "Eu te Devoro", "Açaí", "Segredo", "A Ilha", "Faltando um Pedaço", "Oceano", "Esquinas", "Samurai" e "Boa Noite". Quando criança uma música de Djavan ficou em minha memória, essa música é “Samurai”. Não consigo explicar porque, mas ela sempre retorna a minha mente trazendo-me ótimas recordações de um tempo que não volta mais... 

Samurai



Interprete: Djavan

Composição: Djavan


Aaaaaiii...


Quanto querer

Cabe em meu coração...


Aaaaaiii...

Me faz sofrer

Faz que me mata

E se não mata fere...


Vaaaaiii...

Sem me dizer

Na casa da paixão...


Saaaaii...

Quando bem quer

Traz uma praga

E me afaga a pele...


Crescei, luar

Prá iluminar as trevas

Fundas da paixão...


Eu quis lutar

Contra o poder do amor

Cai nos pés do vencedor

Para ser o serviçal

De um samurai

Mas eu tô tão feliz!

Dizem que o amor

Atrai...


Aaaaaiii...

Quanto querer

Cabe em meu coração...


Aaaaaiii...

Me faz sofrer
Faz que me mata

E se não mata fere...


Vaaaaiii...

Sem me dizer

Na casa da paixão...


Saaaaii...

Quando bem quer

Traz uma praga

E me afaga a pele...

Crescei, luar

Prá iluminar as trevas

Fundas da paixão...


Eu quis lutar

Contra o poder do amor

Cai nos pés do vencedor

Para ser o serviçal

De um samurai

Mas eu tô tão feliz!

Dizem que o amor

Atrai...


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Castelo de cartas



O amor é um castelo de cartas, lindo e mágico.

Cartas lindas para os que amam e lindas para os que são amados.

As cartas mágicas do amor resistem ao tempo e às intempéries.

Cartas tão lindas e mágicas só não resistem à queda de uma delas.

O castelo do amor não existe sem a carta confiança.

A carta da confiança é o pilar central da edificação chamada amor.


Gerci Monteiro de Freitas

 

terça-feira, 31 de maio de 2011

Garota linda

Garota linda; eu te venero.

A tua pele macia; eu quero tocar, sentir, provar.

Em teus longos cabelos; eu quero me enrolar.

Linda garota; eu te quero.

Os teus olhos de jabuticaba; encantam, seduzem, paralisam.

Em teu corpo cheiroso; eu quero me achegar.

Morena linda; vem me enfeitiçar.

Dos pés à cabeça; da cabeça aos pés.

Corpo perfeito; eu quero só pra mim.

Morena linda; vem me bolinar.

Belas palavras; em teu ouvido quero docemente murmurar.

Beijo de mel; molhado e doce em ti eu quero dar.


Gerci Monteiro de Freitas

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Tropicana (Alceu Valença)



Várias canções foram compostas ao redor do mundo. Os temas são variados. Há gosto para tudo, claro. Entretanto, o amor e a mulher são temas que se destacam no universo poético das canções. Canções maravilhosas vieram ao mundo como frutos de seus criadores, num momento em que estavam absolutamente inspirados, num momento único, sublime. Um dos frutos desses aos quais me refiro pode ser observado na bela canção de Alceu Valença, Morena Tropicana. Com características tipicamente nordestinas, uma canção regional, portanto. Morena Tropicana é uma jóia rara, atemporal e com versos curtos, lindos, muito bem-construidos.

Tropicana (Morena Tropicana)

Alceu Valença

Composição : Alceu Valença / Vicente

Da manga rosa

Quero gosto e o sumo.

Melão maduro, sapoti, juá.

Jaboticaba, teu olhar noturno;

Beijo travoso de umbú cajá.



Pele macia,

Ai! carne de cajú!

Saliva doce, doce mel,

Mel de uruçú.



Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vem me desfrutar!

Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vou te desfrutar!



Morena Tropicana,

Eu quero teu sabor.

Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)



Da manga rosa

Quero gosto e o sumo.

Melão maduro, sapoti, juá.

Jaboticaba, teu olhar noturno;

Beijo travoso de umbú cajá.



Pele macia,

Ai! carne de cajú!

Saliva doce, doce mel,

Mel de uruçú.



Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vou te desfrutar!

Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vem me desfrutar!



Morena Tropicana,

Eu quero teu sabor.

Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)



Morena Tropicana,

Eu quero teu sabor.

Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)



Da manga rosa

Quero gosto e o sumo.

Melão maduro, sapoti, juá.

Jaboticaba, teu olhar noturno;

Beijo travoso de umbú cajá.



Pele macia,

Ai! carne de cajú!

Saliva doce, doce mel,

Mel de uruçú.



Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vou te desfrutar!

Linda morena,

Fruta de vez temporana,

Caldo de cana caiana,

Vem me desfrutar!



Morena Tropicana,

Eu quero teu sabor.

Ai! Ai! Ioiô! Ioiô! (2x)

Morena Tropicana!...



terça-feira, 24 de maio de 2011

Ode à Paixão



A Paixão é Bela!
É um sentimento puro,
Puro e avassalador,
Cálido, fogoso e ardente,
De um ardor impar,
Que incendeia o coração e a mente,
Não é superado em intensidade.

A Paixão é Bela!
Faz-me sentir gente,
Faz-me sentir contente,
Leva-me à alegria,
Leva-me à fantasia,

Dá-me o desejo,
Dá-me o sonho.

A Paixão é Bela!
Porém, passageira...
A Paixão é Bela!
Bela enquanto acesa...
A Paixão é Bela!
Bela enquanto dure...


Gerci Monteiro de Freitas

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Se enamora (Tiê)

Uma canção antiga, muito antiga, já foi interpretada pelo extinto grupo infantil Balão Mágico e por mais uma série de cantores Brasil afora. A canção em questão é Se enamora. Bela e singela, uma canção que nos encanta com rimas suaves e versos atemporais. Há uma interprete que gosto muito. Com seu jeito doce e uma voz especial, Tiê faz com que viajemos ao ouvir está magnífica canção.

Se Enamora

Interprete: Tiê

Composição : Garofalo/ Monti / Vicenzo Giuffré / Giannino Gastaldo / Edgard Poças


Quando você chega na classe
Nem sabe
Quanta diferença que faz
E às vezes
Faço que não vejo e nem ligo
E finjo, ser distraída demais

Quantas vezes te desenhei
Mas não consigo
Ver o teu sorriso no fim
Te sigo
Caminhando pelo recreio
Quem sabe
Você tropeça em mim

Se enamora
Quem vê você chegar com tantas cores
E vê você passar perto das flores
Parece que elas querem te roubar

Se enamora
Quem vê você chegar com tantos sonhos
E os olhos tão ligados nesses sonhos
Tesouros de um amor que vai chegar

Quando toca o despertador
De manhãzinha
Me levanto e vou me arrumar
E vejo
A felicidade no espelho
Sorrindo
Claro que vou te encontrar

Fico só pensando em você
E juro
Que vou te tirar pra dançar
Um dia
Mas uma canção é tão pouco
Nem cabe
Tudo que eu quero falar

Se enamora
Quem vê você chegar com tantas cores
E vê você passar perto das flores
Parece que elas querem te roubar

Se enamora
Quem vê você chegar com tantos sonhos
E os olhos tão ligados nesses sonhos
Tesouros de um amor que vai chegar

Se enamora
E fica tão difícil
De ir embora
E às vezes escondido
A gente chora
E chora mesmo sem saber porque
Se enamora
A gente de repente
Se enamora
E sente que o amor
Chegou na hora
E agora gosto muito de você


domingo, 8 de maio de 2011

O Saci (MonteiroLobato)

A rotação da terra produz a noite; a noite produz o medo; o medo gera o sobrenatural: – divindades e demônios têm a origem comum da treva

Quando o sol raia, desdemoniza-se a natureza. Cessa o Sabá. Satã afunda no Inferno, seguido da alcatéia inteira dos diabos menores.

A bruxa reveste a forma humana. O lobisomem perde a natureza dupla. Os fantasmas diluem-se em névoa. Evaporam-se os duendes. Os gnomos subterrâneos mergulham no escuro das tocas. A caipora deixa em paz o viajante. As mulas sem cabeça reincabeçam-se e vão pastar mansamente. As almas penadas trancam-se nas tumbas. Os sacis param de assobiar e, cansados duma noite inteira de molecagens, escondem-se nos socavões das grotas, no fundo dos poços, em qualquer couto onde não penetre a luz, sua mortal inimiga. Filhos da sombra, ela os arrasta consigo mal o Sol anuncia, pela boca da Aurora, o grande espetáculo em que a Luz e sua filha a Côr esplendem numa fulgurante apoteose.

A treva, batida de todos os lados, refoge para os antros onde moram a coruja e o morcego. E nessas nesgas de escuro apinha-se a fauna inteira dos pesadelos, tal qual as rãs e os peixinhos aprisionados nas poças sem esgoto, quando após as grandes enchentes as águas descem. E como nas poças verdinhentas a atraíra permanece imóvel e a rã muda, assim toda a legião dos diabos se apaga. Inutilmente tentaríamos surpreender unzinho sequer.

O saci, por exemplo.

Abundante à noite como o morcego, nunca se deixou pilhar de dia. Metido nas tocas de tatú, ou nos ocos das árvores velhas, ou alapado à beira-rio em solapões de pedra limosa com retrança de samambaias à entrada, o moleque de carapuça vermelha sabe como ninguém o segredo de invizibilizar-se. Não colhesse ele, todos os anos, nas noites de São João, a misteriosa flor da samambaia!…

Mal, porém, o sol afrouxa no horizonte e a morcegada faminta principia a riscar de vôos estrouvinhados o ar cada vez mais escuro da noitinha, a “saparia” pula dos esconderijos, assobia o silvo de guerra – Saci-pererê! – e cai a fundo nas molecagens costumadas.

As primeiras vítimas são os cavalos. O saci corre aos pastos, laça com um cipó o animal escolhido – e nunca errou laçada! – trança-lhe a crina para armar com ela um estribo e dum salto monta-o à sua moda. O cavalo toma-se de pânico, e deita a corcovear pelo campo afora enquanto o perneta lhe finca os dentes numa veia do pescoço e chupa gostosamente o sangue. Pela manhã o pobre animal aparece varado, murcho dos vazios, cabeça pendida e suado como se o afrouxasse uma caminheira de dez léguas beiçais.

O sertanejo premune-o contra esses malefícios pendurando-lhe ao pescoço um rosário de capim ou um bentinho. É água na fervura.

Farto, ou impossibilitado daquela equitação vanpírica, o saci procura o homem para atenazá-lo.

Se encontra na estrada algum viajante tresnoitado, ai dele! Desfere-lhe de improviso um assobio ao a ouvido escarrancha-se-lhe à garupa – e é uma tragédia inteira o resto da jornada. Não raro o mísero perde os estribos e cai sem sentidos à beira do barranco.

Outras vezes diverte-se o saci a pregar-lhe peças menores: desafivela um lóro, desmancha o freio, escorrega o pelego, derruba-lhe o chapéu e faz mil outras picuinhas brejeiras.

O saci tem horror à água. Um depoente no inquérito demonológico do “Estadinho” narra o seguinte caso típico. Havia um caboclo morador numa ilha fluvial onde nunca entrara saci, porque as águas circunvolventes defendiam a feliz mansão. Certa vez, porém, o caboclo foi ao “continente” de canoa, como de hábito, e lá se demorou até à noite. De volta notou que a canoa vinha pesadíssima e foi com enormes dificuldades que conseguiu alcançar o abicadouro da margem oposta. Estava a ‘maginar no estranho caso – um travessio que fora fácil de dia e virara osso de noite – quando, ao firmar o varejão em terra firme, viu saltar da embarcação um saci às gargalhadas. O malvado aproveitara o incidente do travessio a deshoras para localizar-se na ilha, onde, desde então, nunca mais houve sossego entre os animais nem paz entre os homens.

Nos casebres da roça há sempre uma pequena cruz pendurada às portas. É o meio de livrar a vivenda do hospede não convidado. Mesmo assim ele ronda a moradia, arma peças a quem se aventura a sair para o terreiro, espalha a farinha dos monjolos, remexe o ninho das poedeiras, gora os ovos, judia das aves.

Se a casa não é defendida, é lá dentro que ele opera. Estraga objetos, esconde a massa do pão posta a crescer, esparrama a cinza dos fogões apagados em cata de algum pinhão ou batata esquecidos. Se encontra brasas, malabariza com elas e ri-se perdidamente quando consegue passar uma pelo furo das mãos. Porque, além do mais, tem as mãos furadas, o raio do moleque…

As porteiras, como as casas, são vacinadas contra o saci. Rara é a que não traz uma cruz escavada no macarrão. Sem isto o saci divertir-se-ia fazendo-a ringir toda a noite ou abrindo-a inopinadamente diante do transeunte que a defronta, com grande escândalo e pavor deste, pois adivinharia logo o autor da amabilidade e o repeliria com esconjuros.

Os cães apavoram-se quando percebem um saci no terreiro, e uivam retransidos.

Refere um depoente o caso da Dona Evarista. Morava esta excelente senhora numa casinha de barro, já velha e buraquenta, em lugar bastante infestado. Certa noite ouviu a cachorrada prorromper em uivos lamentosos. Assustada, pulou da cama, enfiou a saia e, tonta de sono, foi à cozinha, cuja porta abria para o quintal. E lá estarreceu de assombro: um saci arreganhado erguia-se de pé na soleira da porta, dizendo-lhe com diabólica pacholice: Boa noite, dona Evarista! A veha perdeu a fala e desabou na terra-batida, só voltando a si pela manhã. Desde então nunca mais lhe saiu das ventas um certo cheirinho a enxofre…

Se fossem só essas aparições…

Mas o saci inventa mil coisas para azoinar a humanidade. Furta o piruá da pipóca deixado na peneira, entorna vasilhas d’água, enreda a linha dos novelos, desfaz os crochês, esconde os roletes de fumo.

Quando um objeto desaparece, dedal ou tesourinha, é inútil campeá-lo pela casa inteira. Para reavê-lo basta dar três nós numa palha colhida num rodamoinho e pô-la sob o pé da mesa. O saci, amarrado e imprensado, visibilizará incontinente o objeto em questão para que o libertem do suplício.

Rodamoinho… A ciência explica este fenômeno mecanicamente, pelo choque de ventos contrários e não sei mais que. Lérias! É o saci que os arma. Dá-lhe, em dias ventosos, a veneta de turbilhonar sobre si próprio como um pião. Brincadeira pura. A deslocação do ar produzida pelo giroscópio de uma perna só é que faz o remoinho, onde a poeira, as folhas secas e as palhinhas dançam em torno dele um corrupio infrene. Há mais coisa no céu e na terra do que sonha a tua ciência, Ganot!

Nessas ocasiões é fácil apanhá-lo. Um rosário de capim, bem manejado, laça-o infalivelmente. Também há o processo da peneira: é lançá-la, emborcada, sobre o núcleo central do rodamoinho. Exige-se, porém, que a peneira tenha cruzeta…

A figuração do saci sofre muitas variantes. Cada qual o vê a seu modo. Existem, todavia, traços comuns em relação aos quais as opiniões são unânimes: uma perna só, olhos de fogo, carapuça vermelha, ar brejeiro, andar pinoteante, cheiro a enxofre, aspecto de meninote. Uns têm-no visto de camisola de baeta, outros de calção curto; a maioria o vê nu.

Quanto ao caráter, há concordância em lhe atribuir um espírito mais inclinado à brejeirice do que à malvadez. Vem daí o misto de medo e simpatia que os meninos peraltas revelam pelo saci. É um deles – mais forte, mais travesso, mais diabólico; mas é sempre um deles o moleque endemoniado capaz de diabruras como as sonha a “saparia”.

A curiosidade despertada pelo inquérito do “Estadinho” denota como está generalizada entre nós a crendice. Raro é o brasileiro que não traz na memória a recordação da quadra saudosa em que “via sacis” e os tinha sempre presentes na imaginação exaltada. Convidados agora para falar sobre o duendezinho, todos impregnam seus depoimentos da nota pessoal das coisas vividas na infância. Referem-se a ele como a um velho conhecido que a vida, a idade e o discernimento fizeram perder de vista, mas não esquecer…

E – dubitativos uns, cépticos outros, afirmativos muitos – a conclusão de todos é a mesma: o Saci existe!…

- Como o Putois, de Anatole France?

Que importa? Existe. Deus e o Diabo ensinaram-lhe essa maneira subjetiva de existir…





Monteiro Lobato

SONETO LXXXVIII (William Shakespeare)

Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.

William Shakespeare

segunda-feira, 2 de maio de 2011

EU QUERO É TEU CALOR ANIMAL (Mário Quintana)

Mas onde já se ouviu falar num amor à distância,
Num teleamor ?!
Num amor de longe…
Eu sonho é um amor pertinho…
E depois
Esse calor humano é uma coisa que todos - até os executivos têm
É algo que acaba se perdendo no ar
No vento
No frio que agora faz…
Escuta!
O que eu quero
O que eu amo
O que eu desejo em ti
È teu calor animal…


Mário Quintana

domingo, 1 de maio de 2011

Jóia única (Texto de Autor Desconhecido)

Atravessando o deserto, um viajante viu um árabe montado ao pé de uma palmeira. A pouca distância repousavam os seus cavalos, pesadamente carregados com valiosos objetos.

Aproximou-se dele, e disse:

- Pareceis muito preocupado. Posso ajudar-vos em alguma coisa?

- Ah! respondeu o árabe com tristeza, estou muito aflito, porque acabo de perder a mais preciosa de todas as jóias.

- Que jóia era essa? -- perguntou o viajante.

- Era uma jóia como jamais haverá outra -- respondeu o seu interlocutor.

Estava talhada num pedaço de pedra da vida e tinha sido feita na oficina do tempo. Adornavam-na vinte e quatro brilhantes, em volta dos quais agrupavam-se sessenta menores. Já vereis que tenho razão em dizer que jóia igual jamais poderá reproduzir-se.

- Por minha fé -- disse o viajante --, a vossa jóia devia ser preciosa. Mas não será possivel que, com muito dinheiro, se possa fazer outra igual?

Voltando a ficar pensativo, o árabe respondeu:

- A jóia perdida era um dia, e um dia que se perde jamais se torna a encontrar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Magia interior (Texto de Autor Desconhecido)



Conta a lenda que um Rei, ao caçar na floresta, foi mortalmente ferido, sendo salvo por uma bruxa velha e feia.

Em sinal de gratidão o Rei disse a ela que poderia pedir o que quisesse.

Ela, então, diz que quer se casar com ele.

O amigo mais próximo do Rei, sabendo da dificuldade que isso traria, se oferece para casar-se em seu lugar.

A bruxa aceita.

Realizadas as núpcias, na noite em que se consumaria a união, o amigo do Rei vê entrar em seus aposentos a mais linda mulher do mundo.

A bruxa, transformada em princesa, diz à ele que pode escolher tê-la bela, de dia ou à noite.

O bom homem, enternecido pelo oferecimento, diz a ela que a escolha não pode ser dele, mas dela.

Em razão disso, a bruxa horrenda passa a se apresentar, para seu amado e o mundo, tão bela durante o dia quanto durante à noite.

sábado, 23 de abril de 2011

Quando olhares no espelho

Quando olhares no espelho,

Não chores, não lamentes...

Pára, pensa um pouco,

Afasta-te de teus pesadelos, 

Por um instante, por um mísero instante,

Livra-te de teus Demônios; os demônios usurpam as mentes insanas,

Insano é ódio que flagela a alma.



Quando olhares no espelho,

Sorri, sê feliz...

Pára, pensa um pouco,

Encontra-te com teus sonhos,

Por um instante, por um mísero instante,

Apega-te aos teus anjos: os anjos habitam as mentes puras,

Puro é o amor que acalenta a alma.



Gerci Monteiro de Freitas

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Dor latente

Quando te vejo

Sinto uma dor

Muito forte em meu peito

Uma dor latente

Nada aparente

Somente o desejo 

De te dar um beijo ardente



Gerci Monteiro de Freitas

Carry On Wayward Son (Kansas)

O estilo musical pode parecer meio pesado para o perfil deste blog, mas garanto que vale a pena. Kansas, uma grande banda de Rock. Reputo como sendo uma das maiores de todos os tempos. Anos 70... Tempo em que ainda se faziam grandes composições. Sinceramente não sei se o Rock voltará com a mesma força que tinha antigamente, mas torço muito para que isso aconteça... Sugiro que apreciem a letra e sintam a força desta bela canção...


Carry On Wayward Son

Composição : Karry Livgren


Carry on my wayward son
There'll be peace when you are done
Lay your weary head to rest
Don't you cry no more

Once I rose above the noise and confusion
Just to get a glimpse beyond this illusion
I was soaring ever higher
But I flew too high

Though my eyes could see I still was a blind man
Though my mind could think I still was a mad man
I hear the voices when I'm dreaming
I can hear them say

Carry on my wayward son
There'll be peace when you are done
Lay your weary head to rest
Don't you cry no more

Masquerading as a man with a reason
My charade is the event of the season
And if I claim to be a wise man, well
It surely means that I don't know

On a stormy sea of moving emotion
Tossed around like a ship on the ocean
I set a course for winds of fortune
But I hear the voices say

Carry on my wayward son
There'll be peace when you are done
Lay your weary head to rest
Don't you cry no more, No!

Carry on, you will always remember
Carry on, nothing equals the splendor
Now your life's no longer empty
Surely heaven waits for you

Carry on my wayward son
There'll be peace when you are done
Lay your weary head to rest
Don't you cry
Don't you cry no more!

No more!



Continue Filho Desobediente


Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você estiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Eu me levantei acima do barulho e da confusão
Para dar uma espiada além desta ilusão
Eu estava voando cada vez mais alto
Mas eu voei muito alto

Embora meus olhos pudessem ver eu era ainda um homem cego
Embora minha mente pudesse pensar eu era ainda um homem louco
Eu ouço as vozes quando eu estou sonhando
Eu posso ouvi-las dizer

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você estiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Mascarado como um homem com uma razão
Minha charada é o evento da estação
E se eu reivindicar ser um homem sábio, bom
Significa certamente que eu não sei

Em um mar em tempestade de emoção movente
Sou lançado como um navio no oceano
Eu ajustei um curso para ventos da fortuna
Mas eu ouço as vozes dizerem

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você estiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore mais

Continue, você recordará sempre
Continue, nada se iguala ao esplendor
Agora sua vida já não é mais vazia
Certamente o céu o espera

Continue meu filho desobediente
Haverá paz quando você estiver terminado
Deite sua cabeça cansada para descansar
Não chore
Não chore mais!

Não mais!



 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

DEVOLVE (Mário Lago)

Devolve toda a tranqüilidade

Toda a felicidade

Que eu te dei e que perdi

Devolve todos os sonhos loucos

Que eu construí aos poucos

E te ofereci

Devolve, eu peço, por favor

Aquele imenso amor

Que nos teus braços esqueci

Devolve, que eu te devolvo ainda

Esta saudade infinda

Que eu tenho de ti.



Mário Lago

sexta-feira, 15 de abril de 2011

AMOR BASTANTE (Paulo Leminsk)

Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

Basta um instante
e você tem amor bastante

Um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo Leminski

terça-feira, 12 de abril de 2011

UM MILHÃO DE AMIGOS (Texto de Autor Desconhecido)

Se eu tivesse um milhão de amigos,
pediria uma moeda a cada um e seria milionário.

Se eu tivesse 500 mil amigos,
pediria-lhes que nos déssemos as mãos para construir uma corrente de amor.

Se eu tivesse 200 mil amigos,
fundaria uma cidade onde todos me cumprimentariam com um sorriso.

Se eu tivesse 25 mil amigos,
haveria um congestionamento nas linhas telefônicas no meu aniversário.

Se eu tivesse 6 mil amigos,
sentiria o carinho de 6 mil abraços.

Se eu tivesse mil amigos,
teria mil mãos abanando para mim.

Se eu tivesse 365 amigos,
passaria cada dia do ano com um deles.

Se eu tivesse 100 amigos,
teria cem pares de olhos me olhando com amor.

Se eu tivesse 10 amigos,
minha mãe teria mais 10 filhos.

Se eu tivesse 4 amigos,
teria 4 pares de mãos para me ajudar.

Se eu tivesse 2 amigos,
seria 2 vezes mais feliz.

Mas se eu tivesse um só amigo,
não precisaria ter mais!

(Autor desconhecido)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Zé pinguço (Texto de Autor Desconhecido)

Numa cidade do norte, vivia um homem que nascera com uma cabeça muito grande, e seu apelido era "Cabeçudo". Mas era uma pessoa pacata, bonachona e paciente. Não gostava do apelido, e ninguém o chamava assim, a não ser um cara muito chato que, desde os tempos do grupo escolar, onde quer que o encontrasse, dava-lhe um tapa na cabeça e perguntava:

- Tudo bom, Cabeçudo?

Um dia, depois do milésimo tapão na sua cabeça, Cabeçudo meteu a faca no chato e o matou.

A família da vítima era rica; a do Cabeçudo, pobre. Não conseguiram encontrar um advogado para defendê-lo, pois o crime tinha muitas testemunhas. Depois de procurarem em Belém, São Paulo, Rio, e outras cidades, sem sucesso algum, resolveram procurar um tal de "Zé Pinguço", advogado que há muito tempo deixara a profissão, pois, como o próprio apelido indicava, vivia de porre em porre. Para surpresa geral, o "Zé Pinguço" aceitou o caso.

Passou a semana anterior ao julgamento sem botar uma gota de cachaça na boca! Na hora de defender o Cabeçudo, ele começou a seu discurso assim:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri...

Quando todo mundo pensou que ele ia continuar a defesa, ele repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri...

Repetiu a frase mais uma vez e foi advertido pelo juiz:

- Peço ao advogado que, por favor, inicie a defesa.

"Zé Pinguço", porém, fingiu que não ouviu e continuou:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri...

O promotor pulou:

- A defesa está tentando ridicularizar esta corte!!!

O juiz:

- Advirto ao advogado de defesa que se não apresentar imediatamente os seus argumentos...

Foi cortado por "Zé Pinguço", que repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri...

O juiz não agüentou:

- Seu moleque safado, seu bêbado irresponsável, está pensando que a justiça é motivo de zombaria? Ponha-se daqui para fora antes que eu mande prendê-lo.

Foi então que o "Zé Pinguço" disse:

- Senhoras e Senhores jurados, esta Corte chegou ao ponto a que eu queria chegar... Vejam que, se apenas por repetir algumas vezes que o juiz é meritíssimo, que o promotor é honrado e que os membros do júri são dignos, todos perdem a paciência, consideram-se ofendidos e me ameaçam de prisão... pensem na situação deste pobre homem, que durante quarenta anos, todos os dias da sua vida, foi chamado de Cabeçudo!!!

Cabeçudo foi absolvido e o Zé voltou a tomar suas cachaças em Paz.

domingo, 3 de abril de 2011

Lindas mãos (Texto de Autor Desconhecido)

À beira de um riacho, algumas mocinhas conversavam, contando vantagens de suas lindas mãos. Uma delas mergulhou as mãos na água cintilante, e as gotas que caíam das suas palmas pareciam diamantes.

- Olhem como minhas mãos são lindas! A água corre nelas como jóias preciosas - disse ela, levantando as mãos para as outras admirarem.

Eram muito macias e brancas, pois a única coisa que fazia com elas era lavá-las em água fria e limpa.

Outra mocinha correu para colher morangos e esmagou-os nas palmas das mãos. O suco escorreu pelos dedos como vinho pisado, até os dedos ficarem rosados como o céu ao sol nascente.

- Vejam que lindas mãos as minhas! O suco de morango escorre por elas como vinho - disse ela, levantando as mãos para as outras admirarem.

Eram muito rosadas e macias, pois a única coisa que fazia com elas era lavá-las com suco de morangos todas as manhãs.

Outra mocinha colheu violetas e esmagou-as nas mãos, até ficarem muito perfumadas.

- Olhem que lindas mãos as minhas! São perfumadas como as violetas dos bosques da primavera - disse ela levantando as mãos para que as outras admirassem.

Eram muito macias e brancas, pois a única coisa que fazia com elas era lavá-las com violetas todas as manhãs.

A quarta mocinha não mostrou as mãos, deixando-as no colo. Uma velha veio andando pela estrada e parou perto das mocinhas. Elas lhe mostraram as mãos, perguntando quais eram as mais belas. Para cada uma, ela balançou a cabeça e depois pediu para ver as mãos da última mocinha, que as mantinha no colo. ela levantou as mãos timidamente.

- Hum, estas mãos estão bem limpinhas - disse a mulher - mas estão endurecidas pelo trabalho. Estas mãos ajudam os pais lavando as louças, varrendo o chão, limpando as janelas e semeando a horta. Estas mãos tomam conta do bebê, levam chá quente para a vovó e ensinam o irmãozinho menor como empilhar os toquinhos e empinar pipa. Sim, estas mãos andam muito ocupadas fazendo da casa um lar feliz, cheio de amor e carinho.

Então a velha remexeu no bolso e retirou um anel de diamantes, com rubis mais vermelhos que o morango e turquesas mais azuis que a violeta.

- Tome, use este anel, querida. Você merece o prêmio pelas mais belas mãos, pois são as mais úteis.

E a mulher desapareceu, deixando as mocinhas sentadas à beira do riacho...

O Melhor Amigo – Fernando Sabino

A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a ...