quarta-feira, 25 de julho de 2012

Melisanda (Pablo Neruda)


Seu corpo é uma hóstia fina, mínima e leve,
Tem os azuis dos olhos e as mãos da neve.

E o bosque das arvores parecem-se congelados,
E os pássaros que estão neles estão cansados.

Suas tranças ruivas tocam a água docemente
Como dos braços de ouro brotados da fonte.

Zumbe o vôo perdido das corujas cegas
Melisanda se põem de joelhos - e reza.

As árvores se inclinam até tocar a sua frente,
Os pássaros se mudam na tarde dolente.

Melisanda, a doce, chora junto à fonte.


Pelleas e Melisanda de Pablo Neruda - 1923

sábado, 14 de julho de 2012

Última Folha (Machado de Assis)



Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
A última harmonia.

Dos teus cabelos de ouro, que beijavam
Na amena tarde as virações perdidas,
Deixa cair ao chão as alvas rosas
E as alvas margaridas.

Vês? Não é noite, não, este ar sombrio
Que nos esconde o céu. Inda no poente
Não quebra os raios pálidos e frios
O sol resplandecente.

Vês? Lá ao fundo o vale árido e seco
Abre-se, como um leito mortuário;
Espera-te o silêncio da planície,
Como um frio sudário.

Desce. Virá um dia em que mais bela,
Mais alegre, mais cheia de harmonias,
Voltes a procurar a voz cadente
Dos teus primeiros dias.

Então coroarás a ingênua fronte
Das flores da manhã, — e ao monte agreste,
Como a noiva fantástica dos ermos,
Irás, musa celeste!

Então, nas horas solenes
Em que o místico himeneu
Une em abraço divino
Verde a terra, azul o céu;

Quando, já finda a tormenta
Que a natureza enlutou,
Bafeja a brisa suave
Cedros que o vento abalou;

E o rio, a árvore e o campo,
A areia, a face do mar,
Parecem, como um concerto,
Palpitar, sorrir, orar;

Então sim, alma de poeta,
Nos teus sonhos cantarás
A glória da natureza,
A ventura, o amor e a paz!

Ah! mas então será mais alto ainda;
Lá onde a alma do vate
Possa escutar os anjos,

E onde não chegue o vão rumor dos homens;

Lá onde, abrindo as asas ambiciosas,
Possa adejar no espaço luminoso,
Viver de luz mais viva e de ar mais puro,
Fartar-se do infinito!

Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
A última harmonia!

domingo, 8 de julho de 2012

Pas Besoin De Toi (Joyce Jonathan)



Para quem aprecia a música francesa, principalmente as antigas, mas sente falta de novos talentos no cenário atual. Sorria, há um alento. Joyce Jonathan, nascida em 03 de novembro de 1989, uma francesinha meiga, de voz suave e doce. Ela lembra a Marisa Monte se comparada a uma cantora brasileira. Com canções agradáveis de ouvir, melodias encantadoras. Ela se destacou já em seu primeiro álbum, Sur mes gardes, lançado em 2010 na flor de seus dezoito aninhos... Ao lado de Autour de Lucie, uma banda francesa igualmente talentosa, está à frente da nova geração de bons cantores franceses. Separei uma especial para que meus leitores tenham conhecimento de seu trabalho. Vale a pena, podem apostar.

Pas Besoin De Toi

Sur l'oreiller une larme
Dans mon souvenir un drame
Tout ce qu'il m'a laissé
Un pas que l'on croit entendre
Une voix que l'on veut surprendre
Tous ça c'est du, du passé

Refrain:

Je m'en fous
J'ai pas besoin de toi
Pas besoin de tes bras
Ton image reflète ce que j'aime pas
Quelques soit les recours,
Les appels au secours,
Surtout ne te retourne pas
Cours, cours loin
Le chemin est long
Avant qu'une autre te prenne la main

Ensorcelée ces soirs,
Je continue à y croire
A lui, à nous...
Un bout de tissu parfumé
Le temps ne l'a pas enlevé
De ça, de moi, de tout
J'm'en fous...

Refrain:

J'ai pas besoin de toi
Pas besoin de tes bras
Ton image reflète ce que j'aime pas
Quelques soit les recours,
Les appels au secours,
Surtout ne te retourne pas
Cours, cours loin
Le chemin est long
Avant qu'une autre te prenne la main

Avant qu'une autre te... prenne la main


Tradução:

Não Preciso de Você

Sobre o travesseiro uma lágrima
Na minha memória, um drama
Tudo o que ele me deixou
Um passo que acreditamos ouvir
Uma voz que queremos surpreender
Tudo isso é do, do passado

Refrão:

Eu não me importo
Eu não preciso de você
Não preciso de seus braços
Sua imagem reflete o que eu não amo
Seja qual for o recurso,
Os pedidos de socorro,
Sobretudo, não olhe para trás
Corro, corro longe
O caminho é longo
Antes que uma outra pegue sua mão

Enfeitiçada essas noites,
Eu continuo a acreditar
Nele, em nós...
Um pedaço de pano perfumado
O tempo não levou
Disso, de mim, de tudo
Eu não me importo

Refrão:

Eu não preciso de você
Não preciso de seus braços
Sua imagem reflete o que eu não amo
Seja qual for o recurso,
Os pedidos de socorro,
Sobretudo, não olhe para trás
Corro, corro longe
O caminho é longo
Antes que uma outra pegue sua mão

Antes que uma outra... Pegue sua mão

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Arte de Amar (Manuel Bandeira)




Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

O Melhor Amigo – Fernando Sabino

A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a ...